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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

TUNÍSIA - El -Jem e a Adrenalina dos Espectáculos Violentos


Quando nos deparamos com o Coliseu de El-Jem pela primeira vez ficamos claramente espantados com a sua dimensão e aspecto grandioso e tendemos a estabelecer uma comparação imediata com o Coliseu de Roma. Quer pela cor amarela da pedra, quer pela poluição a que não se encontra sujeito, a beleza deste edifício, a meu ver, nada fica a dever ao seu parente romano. Por outro lado, o enquadramento, sem grandes construções a prejudicar a sua visibilidade, valoriza-o grandemente.





Como de costume não esquecer a roupa leve, o chapéu, o calçado confortável. Levar também a garrafinha de água habitual e aproveitar as sombras que o Coliseu faculta.

O Coliseu, que podemos ver em El-Jem, na antiga cidade romana de Thysdrus, foi construído entre o ano de 230 e de 238 D.C e não chegou a ser terminado uma vez que Gordian – o responsável militar da região suicidou-se após uma mal sucedida tentativa de rebelião contra o poder romano central.




Estranhamente estima-se que a sua capacidade seria entre 30 000 e 45 000 espectadores, enquanto que a cidade tinha sensivelmente o mesmo número de habitantes. Tal só pode encontrar explicação na necessidade de impressionar pela sua riqueza e grandiosidade e de atrair gentes de muitos outros locais para assistir aos espectáculos.





O Coliseu de El-Jem é o único monumento romano que pode ser visto em El-Jem, o que significa que o que resta da antiga cidade romana se encontrará ainda soterrado. A cidade actual, em si, não apresenta interesse particular.




 

O edifício é enorme e grandioso, com semelhanças com o Coliseu de Roma, mas em melhores condições de conservação. A construção é oval, com 148 metros de comprimento e 122 de largura, com uma altura de 35 metros. A arena, por si só, tem 65 metros de comprimento e 39 de largura.



O Coliseu encontra-se muito bem conservado, exceptuando uma parte das paredes exteriores que foram destruídas no século XVII – em 1695 – durante escaramuças com dissidentes contra a governação otomana.


A pedra utilizada na construção do edifício procede de Salakta, a cerca de 30 Km de distância, e é uma pedra relativamente macia, o que explica a escassez de decoração no interior do anfiteatro.





 

As galerias superiores do coliseu eram destinadas a dignitários e encontravam-se cobertas, de modo a proteger os espectadores do calor do sol.



  

A colonata do anfiteatro é impressionante e visava claramente impressionar os visitantes, uma vez que não tinha sentido prático de natureza arquitectónica ou de estabilidade da estrutura.





 

Como habitual, toda a extensão subjacente à arena era destinada aos gladiadores, prisioneiros e animais.


Ui que medo!




Espero que não nos surja nenhum leão ou tigre pela frente. Esses talvez tivessem sobrevivido, ou os seus fantasmas.

Dos prisioneiros e dos gladiadores naturalmente que nem a alma terá sobrevivido, tais os tratos de polé a que eram sujeitos.

A cultura romana parecer ser particularmente violenta. Também as culturas azteca, inca e maia o terão sido. As culturas chinesa e japonesa dão mostras de terem sido sanguinárias. As culturas europeias em todas as épocas mostram marcas de violência inter-étnica, inter-países, por motivos territoriais, de poder, de religião. O período da expansão e do colonialismo, com a escravatura asssociada é uma página da maior escuridão na história da humanidade.

Houve massacres gigantescos ao longo da pré-história e do período históricos . E não se pense que tudo isso se passou há muito tempo.

É interessante e simultaneamente triste constatar como os espectáculos sangrentos  ou envolvendo riscos , assim como a guerra,  sempre fizeram e continuam a fazer muito sucesso.

Na época da inquisição os autos-de-fé tinham assistência numerosa que se divertia com o sofrimento de outras pessoas. É por isso que Toledo, apesar de bela, é uma cidade tão pesada em que se sente nas paredes e nos espaços públicos uma atmosfera opressiva de sangue e sofrimento.

Todas as religiões em todos os tempos valorizam e glorificam o sacrifício. Todas acarretam uma imensidão de pathos. As religiões enaltecem a morte e desvalorizam o prazer e a vida. Mesmo aquelas que mascaram essa faceta com rituais e celebrações. Vide os sacrifícios humanos, as mutilações na Grécia Clássica, nas culturas ameríndeas, nos festivais hindus actuais, na celebração da semana santa nas Filipinas.

Em Lisboa, o terramoto de 1755 destruíu o edíficio da inquisição e a Baixa foi arrasada. Este acontecimento trouxe uma leveza à cidade e terá lavado muito do sangue que as paredes e os espaços tinham colados. Infelizmente terá também destruído edíficios medievais e renascencistas que a cidade teria.

As sangrentas touradas cumprem objectivos idênticos, ainda que, tratando-se de animais, os espectadores não sintam a culpa de estarem a usufruir prazer com o sangue vertido por seres que não têm alma (?).

O mesmo se passa com as lutas de cães ou de galos, as primeiras a tornarem-se preocupantemente populares, as segundas sempre muito frequentes no mundo oriental, em particular na Indonésia e nas Filipinas.

Na China, até insectos como os grilos são colocados em situação de luta para divertimento de quem assiste.

Os espectáculos que envolvem riscos para quem os pratica e, muitas vezes para quem assiste, por exemplo os desportos motorizados, elevam os níveis de adrenalina de quem os faz e de quem os vê.

Uma boa parte do cinema actual, em particular o que envolve efeitos especiais, de ficção científica, policiais, terror, fantasia satisfaz a necessidade dos seres humanos em assistirem à desgraça dos outros e em se comprazerem com a violência.

Claro que, aqui, descansadamente, porque os espectadores sabem que é apenas fantasia: ninguém fica ferido, não morre ninguém!  

Há uma curiosidade mórbida nos seres humanos. Assistir com pormenor às consequências de um acidente é um passatempo em qualquer parte do mundo.

Os desenhos animados, em que os personagens sobrevivem a tudo têm o mesmo efeito com as crianças.

As notícias de jornal e de televisão, em que a desgraça, o sofrimento, a morte são factos noticiosos prioritários com exposição dos cadáveres e de todas as formas de destruição constituem uma forma de fruição. Quantas vezes as torres gémeas de Nova Iorque foram destruídas e mostradas desde que o facto ocorreu?

É assim esta espécie sem solução! Que se considera a si própria criada à imagem e semelhança de deus!










Nota: Texto e fotos do Lobo




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