"Da minha língua vê-se o mar"
Vergílio Ferreira
Da minha língua vê-se o mar...
Vê-se o oceano e o céu.
Vê-se a lua e o luar.
A minha língua sou eu
pelo espaço a navegar.
Os meus olhos vêem em português
E também assim eu penso.
Se oro, se queimo insenso
Se vivo um amor intenso
Ou se respondo a porquês.
A minha língua criou-me,
Deu-me o mundo a conhecer,
Ensinou-me a perceber,
Assinalou-me o saber.
Esta língua tatuou-me.
Marca de água sobre a pele
Língua que no sangue corre.
Nos nervos, nos gestos segue
Seja em pensamento breve,
Num grito ou num gemido
Num cantar ou num sentido.
Em português aprendi.
Nesta língua soletrei, errei e pequei.
E nesta língua chorei,
Sorri, gargalhei e ri.
Idioma de sotaques
De poemas de arrepio
Língua de voo e de gente
De entrega e desafio
Língua alma incandescente.
Pétalas de rosas
Arranhão de sons
Língua afiada e de trapos
Sons sonoros e canoros
De tantas e tantas prosas
De muitas e muitas rezas
De promessas
E de imensas descobertas.
Língua expressão e canção
Que nos traz os sons do mar.
Língua fado e língua samba
Esta língua tão feliz,
Por vezes língua raiz,
Que estrutura o pensamento.
E sempre, sempre nos diz
Que ainda vamos a tempo.
Carlos José Martins Nobre
25 de Julho de 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário