Amália dizia que a avó, ou a mãe, não sei bem, lhe dissera que ela havia nascido no tempo das cerejas. Amália cultivava, com a inteligência brilhante que possuía, uma postura de diva e de mulher do povo, que nem sabia bem a sua data de nascimento. Teria nascido algures no tempo das cerejas.
Com um equilíbrio muito sensato soube integrar as suas origens humildes de moça de pé descalço na imagem de diva com uma voz de uma beleza inesquecível, de longos vestidos diáfanos e grandes jóias pendentes e ofuscantes. As cerejas, os carapaus de escabeche, as braçadas de flores silvestres mantiveram-na na terra enquanto o mundo a elevava aos céus.
Mariza procura exactamente o mesmo objectivo de não se elevar para além da estratosfera, quando diz que, em digressão, pelos hotéis, lava e pendura a sua roupa no quarto. Como se estivesse na Mouraria.
É para lembrar a pureza deste espírito que as cerejas...fruta simples, bela e deliciosa se encontra hoje presente em dois fados, um que podem ler a seguir e os dois disponíveis nos links indicados. Um é cantado por Aldina Duarte, o outro por Gonçalo Salgueiro. Este segundo, com excertos de poemas de Amália, homenageia justamente a sua afirmação sobre o ter visto a luz do mundo no tempo das cerejas.
Maravilhosas cerejas e o tempo em que crescem!
A Estação das Cerejas
Eu hei-de ser das cerejas
Da vertigem dos cardumes
Do mistério dos pardais;
Hei-de ser o que tu sejas
Aquilo a que te resumes
As orações naturais
Eu hei-de ser vento norte
Rir-me na cara da morte
A dança do colibri
Mas hei-de ser do meu peito
Desta dor com que me deito
Só porque me dói de ti
Eu hei-de ser das cerejas
Do luar na primavera
Labirinto do prazer
Hei-de ser o que desejas
Que por ti sabes que espera
Enquanto a lua quiser
Eu hei-de nascer do nada
Como a papoila encarnada
Que nada fez por nascer
Hei-de nascer tua amada
Sem uma razão nem nada
Mas só porque tem de ser
Aldina Duarte/João Monge
Aldina Duarte - Estação das Cerejas: http://www.youtube.com/watch?v=Au6leZkBqgY
Gonçalo Salgueiro - No tempo das cerejas: http://www.youtube.com/watch?v=DYVi_c5IUWI
A Estação das Cerejas
Eu hei-de ser das cerejas
Da vertigem dos cardumes
Do mistério dos pardais;
Hei-de ser o que tu sejas
Aquilo a que te resumes
As orações naturais
Eu hei-de ser vento norte
Rir-me na cara da morte
A dança do colibri
Mas hei-de ser do meu peito
Desta dor com que me deito
Só porque me dói de ti
Eu hei-de ser das cerejas
Do luar na primavera
Labirinto do prazer
Hei-de ser o que desejas
Que por ti sabes que espera
Enquanto a lua quiser
Eu hei-de nascer do nada
Como a papoila encarnada
Que nada fez por nascer
Hei-de nascer tua amada
Sem uma razão nem nada
Mas só porque tem de ser
Aldina Duarte/João Monge
Aldina Duarte - Estação das Cerejas: http://www.youtube.com/watch?v=Au6leZkBqgY
Gonçalo Salgueiro - No tempo das cerejas: http://www.youtube.com/watch?v=DYVi_c5IUWI
Nota: Texto do Lobo. Fotos da net.
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