Vila Ruiva - Ponte Romana
O Lobo gosta muito do Alentejo. Aliás esta é terra de lobos, raposas e de muitos e desvairados animais.
Quanto mais descobre as suas aldeias, vilas, cidades, os seus campos amplos, o arvoredo, os pequenos ribeiros, as construções megalíticas e de épocas diversas da ocupação do território, as aves que enchem o espaço, os animais selvagens que passam inesperadamente, a atmosfera daquela larga planície, maior se torna o encantamento.
Alvito
O Alentejo e as suas gentes ali estão, terra simultaneamente dura de roer, com invernos e verões muito ásperos e difíceis, mas também de uma enorme doçura nas estações intermédias.
Albergaria dos Fusos - Ermida do cemitério
São aldeias brancas de faixas azuis, amarelas ou vermelhas, que parecem paradas no tempo e sem gente.
São os castelos no alto de pequenos morros. As igrejas brancas, herdeiras de mesquitas. As ermidas. Antes destas as antas, os cromeleques. São os legados visigóticos, muçulmanos, romanos. O Alentejo eterno, de todos os tempos: a idade média também lá vive, o gótico, o renascimento e o manuelino encontra-se por aqui e por ali. Os azulejos e a pedra, as cantarias que ornamentam as portas e janelas das aldeias e das cidades.
Alvito - Castelo/Pousada e pelourinho
Alvito - Castelo/Pousada - Pátio
Há o branco da cal que tudo clareia. A luz amarela e rutilante: no inverno rebrilhando no orvalho que cobre os campos verdes; na primavera colorindo ainda mais intensamente as cores que serapinteiam a planície; no verão amarelejando ainda mais o amarelo que está por todo o lado - no céu azul e na terra.
São os grandes lagos artificiais das barragens necessárias para hidratar aquelas terras ressequidas.
As árvores no Alentejo são diferentes. Os sobreiros de troncos vermelhos a enganar-nos os olhos - estas árvores são carne.
A poetisa Florbela Espanca (Vila Viçosa - 1894/ Matosinhos - 1930) exprime na sua poesia muito da alma das mulheres do Alentejo, recorrendo às imagens que impregnam a paisagem, como forma de expressar sentimentos, estados de alma, sensações. A neurose de Florbela encontra no panteísmo simbolista, em que a natureza se embrulha na alma das gentes, reflectindo-a, expressando-a e, de certo modo incorporando-a ( já não se sabe onde se inicia o tormento ou a alegria da poetisa e onde páram os sentimentos que caracterizam as plantas, as paisagens dos campos, as árvores ou o mar) - à semelhança da escrita japonesa antiga - está bem expresso nas Árvores que a seguir transcrevo:
"Horas mortas… Curvada aos pés do monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A ouro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota d´água! "
Há um javali que passa na noite com as suas crias. Há um bando de gaios a riscar o céu. As águias, os milhafres que vigiam o solo, planando, na busca de um rato do campo, de um coelho. As cegonhas vieram para ficar. Brancas como a cal, erectas sobre os postes, nas árvores ou pousadas nos campos são uma imagem solene e esguia daqueles espaços abertos.
Os porcos do montado, as vacas com as suas brancas garças privadas e os rebanhos de ovelhas animam os verdes. Os burros do Alentejo e os seus maravilhosos cavalos de Alter do Chão.
Alvito - Oliveira ao lado do Castelo/Pousada
"Horas mortas… Curvada aos pés do monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A ouro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota d´água! "
Albergaria dos Fusos - Ermida do cemitério
Há um javali que passa na noite com as suas crias. Há um bando de gaios a riscar o céu. As águias, os milhafres que vigiam o solo, planando, na busca de um rato do campo, de um coelho. As cegonhas vieram para ficar. Brancas como a cal, erectas sobre os postes, nas árvores ou pousadas nos campos são uma imagem solene e esguia daqueles espaços abertos.
Os porcos do montado, as vacas com as suas brancas garças privadas e os rebanhos de ovelhas animam os verdes. Os burros do Alentejo e os seus maravilhosos cavalos de Alter do Chão.
Onde há rebanhos e searas há, naturalmente, cães e gatos. No Alentejo há muitos. Em particular sobressaem os grandes rafeiros alentejanos. São animais imponentes, os maiores das raças nacionais, de perfil nobre, fiéis, inteligentes e trabalhadores. São cães de guarda e de rebanho. Animais belíssimos que se integram na perfeição na amplidão dos campos alentejanos.
Rafeiro alentejano
No Alentejo sente-se profundamente a natureza. Sente-se também a forte ligação dos homens à terra. Sente-se a passagem das estações.
Há uma maneira própria e melodiosa de falar. Há um cante que reflecte a paisagem plana e que vem de muito longe. O rosto da terra é o rosto da gente. Terra antiga e gente de outros tempos. Não são rezingas, são gente simpática e afável que explica com pormenor e rigor o que se lhes pergunta. Há uma maneira de falar e de ser alentejanos.
Blue
Há uma maneira própria e melodiosa de falar. Há um cante que reflecte a paisagem plana e que vem de muito longe. O rosto da terra é o rosto da gente. Terra antiga e gente de outros tempos. Não são rezingas, são gente simpática e afável que explica com pormenor e rigor o que se lhes pergunta. Há uma maneira de falar e de ser alentejanos.
Alvito - Tanque comunitário para lavagem de roupa
Há muitos artistas, muitos poetas e escritores, muitos cantores, muita gente que escreve e escreveu sobre este modo de vida e sobre estas paisagens.
E há os objectos do dia-a-dia.
Os barros simples e pintados ou então com incrustrações de pequeninas pedras de quartzo - tachos, alguidares, enfusas, pequenas taças, potes para guardar azeitonas, imensos vasilhames para guardar a carne de porco frita em banha.
Os bordados e os tapetes de Arraiolos com motivos e expressão da longínqua Índia.
Os cântaros e os imensos alguidares de cobre; os trabalhos em ferro - as panelas, as trempes; os esmaltes, os tachos de alumínio e as almotolias ; as arcas de madeira para armazenar o pão, as pás de madeira para os levar ao forno e os tabuleiros para os guardar; os cocharros para beber a água fresca no verão; os trabalhos em verga - cestos, alcofas.
São inúmeros os objectos que aqui se encontram, imaginados e trabalhados para aqui serem usados.
E os vinhos, o azeite, o pão, a culinária? As ervas aromáticas dão gosto a tudo. A hortelã, como no norte de áfrica, toma conta de muitos pratos; os orégãos, o poejo, o tomilho.
Alvito - Igreja Matriz - revestimento azulejar - Século XVII
Os cântaros e os imensos alguidares de cobre; os trabalhos em ferro - as panelas, as trempes; os esmaltes, os tachos de alumínio e as almotolias ; as arcas de madeira para armazenar o pão, as pás de madeira para os levar ao forno e os tabuleiros para os guardar; os cocharros para beber a água fresca no verão; os trabalhos em verga - cestos, alcofas.
São inúmeros os objectos que aqui se encontram, imaginados e trabalhados para aqui serem usados.
E os vinhos, o azeite, o pão, a culinária? As ervas aromáticas dão gosto a tudo. A hortelã, como no norte de áfrica, toma conta de muitos pratos; os orégãos, o poejo, o tomilho.
Também os tecidos, o algodão em particular têm usos múltiplos: de talegos para o pão a bordados para os altares, de toalhas diáfanas para a mesa; de linho para a limpeza das mão húmidas.
Alvito - Igreja Matriz - Fresco do altar - pormenor
No Alentejo qualquer lugar fica logo ali. As distâncias são longas, mas é como se não fossem.
Esta terra tem uma cultura própria e muito distinta de outros locais de Portugal. O Alentejo não se confunde com outras culturas. Integra tudo no seu vasto coração típico da planície e por lá fica a bater, já com aquele ritmo que lhe é próprio.
Água de Peixes - Largo do pelourinho
Teremos muitas oportunidades para falar e publicar imagens do Alentejo, dos alentejos e dos alentejanos.
Desta vez o percurso decorre entre Alvito, Água de Peixes e Vila Ruiva. E não pensem que é fácil abalar destas terras e regressar à cidade grande, sem uma forte sensação de saudade e de nostalgia dos momentos aqui passados, daquilo que os olhos encontraram.
Nota: Fotos do Lobo/ Dezembro 2010
Alvito - Igreja Matriz - pormenor de revestimento azulejar - Século XVII
Nota: Fotos do Lobo/ Dezembro 2010
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